terça-feira, 12 de junho de 2007

História da Igreja – Parte 3

A política dos romanos era, em geral, tolerante em relação à religião e aos costumes dos povos conquistados. Pouco tempo depois da deposição de Aristóbulo, os romanos devolveram aos descendentes dos Macabeus certa medida de autoridade, dando-lhes os títulos de sumo-sacerdote e etnarca (Governador de província).
Herodes, nomeado rei da Judéia pelos romanos no ano 40 a.C., foi o último governante com certa ascendência macabéia, pois sua esposa era dessa linhagem. Mas, até a própria tolerância dos romanos não podia compreender a obstinação dos judeus, que insistiam em render culto somente a seu Deus e se rebelavam ante a menor ameaça contra sua fé.
Herodes fez todo o possível para introduzir o helenismo no país. Com esse propósito fez construir templos em honra a Roma e a Augusto em Samaria e Cesaréia. Mas, quando se atreveu a colocar uma águia de ouro na entrada do Templo, os judeus se sublevaram e Herodes teve de recorrer à violência.
Seus sucessores seguiram a mesma política helenizante, fazendo construir novas cidades de estilo helenista e trazendo gentios para viverem nelas.
Por esta razão, as rebeliões aconteciam quase ininterruptamente. Jesus era menino quando os judeus se rebelaram contra o etnarca Arquelau, que teve de recorrer às tropas romanas. Essas tropas, sob o comando do general Varo, destruíram a cidade de Séforis, capital da Galiléia e vizinha de Nazaré, e crucificaram dois mil judeus.
É a esta rebelião que se refere Gamaliel ao dizer que "levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo" (Atos 5:37). O partido dos zelotes, que se opunha tenazmente ao regime romano, continuou existindo depois das atrocidades de Varo, e cumpriu um papel importante na grande rebelião que eclodiu no ano de 66 d.C.
Essa rebelião foi, talvez, a mais violenta de todas, e conduziu à destruição de Jeru¬salém no ano de 70 d.C., quando o general — e depois imperador — Tito conquistou a cidade e derrubou o Templo.
Em meio a tais lutas e tentações, não é de se estranhar que o judaísmo se tenha tornado cada vez mais legalista. Era necessário que o povo tivesse diretrizes claras acerca de qual deveria ser sua conduta em diversas circunstâncias.
Os preceitos detalhados dos fariseus não tinham o propósito de fomentar uma religião puramente externa - ainda que às vezes tenham tido esse resultado — mas, antes, procuravam aplicar a Lei às circunstâncias que o povo vivia no dia-a-dia.
Os fariseus eram o partido do povo que não gozava das vantagens materiais oriundas do regime romano e helenista. Para eles, o importante era assegurar-se de cumprir a Lei, mesmo nos tempos difíceis em que estavam vivendo. Além disso, os fariseus criam em algumas doutrinas que não tinham apoio nas mais antigas tradições dos judeus, tais como a ressurreição e a existência de anjos.
Os saduceus, por outro lado, eram o partido da aristocracia, cujos interesses os levavam a colaborar com o regime romano. Uma vez que o sumo-sacerdote pertencia geralmente a essa classe social, o culto do Templo ocupava para os saduceus a posição central que a Lei tinha para os fariseus. Além disso, aristocratas e conservadores como eram, os saduceus rejeitavam as doutrinas da ressurreição e a da existência dos anjos, que segundo eles eram meras inovações.
Portanto, devemos nos cuidar de não exagerar a oposição de Jesus e dos primeiros cristãos ao partido dos fariseus. De fato, quase todos eles estavam mais perto dos fariseus do que dos saduceus.
A razão pela qual Jesus os critica não é, então, por terem sido maus judeus, mas porque, em seu afã de cumprir a Lei ao pé da letra, os fariseus se esqueciam às vezes dos seres humanos a quem a Lei fora dada.
Além desses partidos, que ocupavam o centro da cena religiosa, haviam outras seitas e bandos no judaísmo do século primeiro. Já mencionamos os zelotes. Havia também os essênios, a quem muitos autores atribuem os famosos "Rolos do Mar Morto", que eram um grupo com ideias puristas, que se apartava de todo contato com o mundo dos gentios, a fim de manter sua pureza ritual.
Segundo o historiador Josefo, esses essênios sustentavam, além das doutrinas tradicionais do judaísmo, certas doutrinas secretas que lhes estavam vedadas revelar a quem não fosse membro de sua seita.
Por outra parte, toda esta diversidade de tendências, partidos e seitas não eclipsava os pontos fundamentais que todos os judeus sustentavam em comum > o monoteísmo ético e a esperança escatológica. O monoteísrno ético sustentava que há um só Deus e que este Deus requer, além do culto apropriado, a justiça entre os seres humanos. Os diversos partidos podiam estar em desacordo com respeito ao que essa justiça queria dizer em termos concretos. Mas quanto a necessidade de honrar ao Deus único com as suas vidas, todos concordavam.
A esperança escatológica era a outra nota comum da fé de Israel. Todos, desde os saduceus até aos zelotes, guarda¬vam a esperança messiânica e criam firmemente que o dia chegaria em que Deus interferiria na história para restaurar Israel e cumprir suas promessas de um Reino de paz e justiça.
Alguns criam que seu dever estava em acelerar a chegada desse dia recorrendo às armas. Outros diziam que tais coisas deviam ser deixadas, exclusivamente, nas mãos de Deus. Mas todos concordavam em sua visão dirigida em direção ao futuro quando se cumpririam as promessas de Deus.
De todos esses grupos, o mais apto para sobreviver depois da destruição do Templo era o grupo dos fariseus. Os fariseus tinham suas raízes na época do Exílio, quando os judeus não podiam chegar ao Templo para adorar, e portanto sua fé se centralizava na Lei.
Durante os últimos séculos antes do advento de Jesus, o número dos judeus que viviam em terras longínquas havia aumentado constantemente. Tais pessoas, que não podiam visitar o Templo senão em raras ocasiões, viam-se obrigadas a centralizar sua fé na Lei e não no Templo.
No ano de 70 d.C., a destruição de Jerusalém deu o golpe de misericórdia ao partido dos saduceus e, portanto, o judaísmo que o cristianismo conheceu através de quase toda a sua história — assim como o judaísmo que existe em nossos dias — vem da tradição farisáica.

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